Eu costumava usar salto alto, até o dia
em que torci o pé. Eu costumava sair sem guarda-chuva, até o dia em que choveu.
Eu costumava dormir mascando chiclete, até o dia que acordei com o cabelo
grudado. Eu costumava caminhar pela mesma estrada, até o dia em que a
destruíram. Eu costumava pintar as unhas de vermelho, até o dia que o esmalte
acabou. Eu costumava desenhar gente, até o dia que a ponta do lápis quebrou. Eu
costumava sorrir para as crianças, até o dia em que vi uma chorando. Eu
costumava contemplar a beleza do mar, até o dia em que o vi poluído. Eu
costumava ouvir as mesmas músicas, até o dia em que aquela cantora morreu. Eu
costumava fazer poesias para um amor, até o dia em que ele se foi. Eu costumava
pentear meus lindos cabelos, até o dia em que os cortei. Eu costumava abraçar o
travesseiro, até o dia em que ele não tinha mais seu cheiro. Eu costumava
colher flores, até o dia em que a primavera acabou...
E ela não mais voltou,
E você não mais voltou,
E tudo mudou...
E eu aprendi a usar sapatilhas que
machucam os pés. Aprendi a usar guarda-sol, mesmo quando não tem sol. Aprendi a
odiar chicletes. Aprendi a caminhar pelos becos escuros. Aprendi a só usar
esmalte preto. Aprendi a desenhar na areia. Aprendi a ser séria e distante. Aprendia
fechar os olhos quando, de longe, avisto o mar. Aprendi a não gostar mais de
músicas. Aprendi a desacreditar no amor. Aprendi a esconder meus cabelos. Aprendi
a dormir sem travesseiro. Aprendi a não procurar mais flores.
E, finalmente, eu aprendi a esquecer dos
meus amores.
E hoje não sinto mais dores, nem
temores, nem fervores, nem rancores.
Tudo é questão de costume!
Gostei de: O Costume. Muito bom!
ResponderExcluirNo início achei estranho, nada a ver, mas no final tudo faz sentido.